Parque Nacional Mochima, Santa Fé

Depois de uma viagem “daquelas” qualquer sitio que nos desse uma cama e um chuveiro era óptimo. Não estávamos convictos de tal sorte, afinal nas últimas 23 horas dois autocarros avariaram, um outro foi cancelado e a chuva prometia nunca parar. Mas uma coisa era certa, das caraíbas já ninguém nos tirava. Assim que colocámos os pés da areia soubemos que o esforço tinha valido a pena. Ficámos alojados em frente à praia, alias, em cima da praia e daí só saímos para visitar outras praias espalhadas pelas ilhas que compõem o Parque Nacional Mochima. Esta era a primeira “localidade” que visitávamos na Venezuela e, por tal, pretendíamos desde logo desmitificar (ou clarificar) alguns dos boatos (ou avisos) que vínhamos ouvindo sobre este país. O primeiro, relativamente ao valor real da moeda, tínhamos-nos apercebido ainda no Brasil quando estávamos prestes a atravessar a fronteira. Em Santa Fé confirmámos que não só o valor oficial dos Bolivares Venezuelanos é metade do praticado no mercado negro (há quem lhe chame “mercado paralelo”) como também não é fácil arranjar alguém que esteja neste “negócio” de cambiar dinheiro. Na prática, era insustentável para nós (e qualquer outro turista, mesmo que mais endinheirado) permanecer na Venezuela caso tivéssemos que trocar os nossos Dólares Americanos num banco ou numa casa de cambio oficial. É que estes compravam os nossos $USD por 4.2 Bolivares, enquanto no mercado paralelo conseguíamos vender cada nota americana por 9.0 Bolivares. A Venezuela já por si não é dos países mais baratos, se levantarmos dinheiro do multibanco torna-se num dos mais caros “del mundo”! Neste aviso acreditámos e como tal decidimos ainda no Brasil abastecermos-nos de “Benjamins Franklings”. No entanto não tivemos o mesmo cuidado e preparação com que, por exemplo, tivemos para o Birmânia, nomeadamente, na qualidade das notas e no valor delas. Mas, first things firts, primeiro tínhamos que encontrar alguém que nos comprasse as verdinhas americanas e aparentemente este já não estava a ser um negócio lucrativo! Ao final de 2 dias e já sem dinheiro para água conseguimos trocar 100 usd. Fizemos a festa, e não foi com água. Pagámos o hotel, a “tour” a uma das ilhas dentro do Parque Nacional (onde acompanhámos um cardume de golfinhos) e guardámos o suficiente para apanhar o autocarro no dia seguinte.

Nessa noite festejámos e fomos sair à noite! Este era um outro boato, o perigo da Venezuela. Não arriscámos muito, até que só havia um bar nesta localidade, mas deu para conviver (só com homens) e entrar no esquema de pagar as rodadas, semelhante a Portugal. Talvez por sermos os únicos “outsideres”, ou então pelos belos olhos da Ana, mas aqui conversámos com a malta e deu para termos uma perspectiva do povo que venera o Chavez (os pobres e bandidos) e os que esperam que ele perca as eleições deste ano (também pobres mas fartos da insegurança e da corrupção). Ambos os lados falavam abertamente e respondiam a qualquer questão colocada. Não podemos dizer com isto que a Venezuela é segura ou tranquila, mas que esta noite correu bem é inegável!

A Venezuela e os seus parques naturais!

A Venezuela tem alguns obstáculos sendo o primeiro conseguir lá chegar. De Manuas até ao nosso destino, as caraíbas, separavam-nos 1959 km pela floresta Amazónia e pelo Parque Nacional Canaíma. Mas estas não eram as nossas preocupações. O facto de só em Manuas nos termos informado que para entrar na Venezuela precisaríamos da vacina da febre amarela válida, e que esta demora 10 dias a fazer efeito após de tomada, começamos a pensar em alterar os nossos planos. Mas as alternativas eram piores (e mais caras) do que arriscar entrar de qualquer forma. Afinal, o pior que podia acontecer era termos que voltar para trás cerca de 918 km pela floresta. (Quanto à febre amarela, tomámos a vacina gratuitamente mal tivemos a noticia, só não esperámos os 10 dias!)

Como nenhuma empresa de autocarros que fazia o trajecto Manaus-Venezuela nos quis vender bilhete (diziam que assim não conseguiríamos entrar no país do Chavez) tivemos que seguir viagem por nós próprios. Fomos de autocarro até à cidade de Boavista, onde trocamos para uma camioneta que nos levou até à fronteira do Brasil. Até à Venezuela faltavam 2 km! Estávamos quase e tudo estava a correr na perfeição mas…há sempre um “mas”… todos os autocarros que se encontravam no lado do Brasil (e que iam directamente para a costa na Venezuela) ou estavam avariados, ou tinham acabado de ser apedrejados no lado da Venezuela. Ou seja, não havia transporte para o “lado-de-lá”, era hora de almoço (e a fronteira estava fechada) e Portugal ia quase começar a jogar com a Alemanha. Até meio da primeira parte do jogo não nos preocupamos muito com o que fazer, mas tudo mudou quando os brasileiros optaram por mudar de canal para ver o jogo amigável entre o Brasil e a Argentina. Ficámos tristes e agora estávamos a correr contra o tempo. Despedimos-nos amargamente do Brasil e caminhamos em direcção ao país que diziam ser muito perigoso e que certamente iríamos ter problemas, principalmente com a policia corrupta. Foi como sair de uma estrada de pó e entrar numa impecavelmente alcatroada, literalmente! A passagem pelo serviço de imigração foi do mais célere possível (também só éramos nós os dois) e apenas foi necessário apresentar o passaporte e fazer o “check in” no livro de registo de entrada (semelhante aos dos hotéis – nesta sala não havia sequer computadores). Para festejar a boa entrada na Venezuela tirámos a nossa foto habitual, desta vez com a ajuda da policia militar (que para nós foi simpática e sempre prestável). Da fronteira até à primeira cidade eram 16 km, estes já eram mais complicados de fazer a pé e sem táxis nem autocarros por perto decidimos pedir boleia. Não demorou mais do que 5 minutos até uma pick up de caixa aberta parar e nos perguntar para onde queríamos ir. Subimos para a caixa aberta e passado 15 minutos já estávamos a apanhar um táxi (conduzido por um português) do centro da cidade de Santa Elena de Uairén até à estação dos autocarros.

Contudo, na estação do autocarros, ainda tivemos tempo de sofrer os últimos 10 minutos do primeiro jogo de Portugal no Euro2012. Gostámos do que vimos e ficou a promessa que os próximos jogos teriam que ser vistos com mais calma e concentração. Horas mais tarde, já pelas 8 da noite, apanhámos o autocarro que nos iria levar até à cidade Bolivar, no centro da Venezuela. Daí foi só apanhar um táxi para fazer os restante 260 km até à cidade balnear de Puerto de la Cruz.

O primeiro desafio não foi dos mais fáceis, mas ao final de 23 horas conseguimos chegar à vila de Santa Fé, no Parque Nacional Mochima.

Manaus, a capital da Amazónia

O barco atracou no porto de Manaus pelas 5 da manhã mas como tínhamos um camarote só para nós decidimos ficar a dormir até um pouco mais tarde. Quando nos despachámos e saímos do nosso quarto já o barco estava deserto. Perfeito, saímos com a tranquilidade que nos caracteriza e fomos caminhando pelas ruas da capital à procura de alojamento. A cidade é grande, desenvolvida e um pouco caótica. A baixa da cidade estava inundada devido à subida do rio Amazonas, provocada pelas recentes chuvas tropicais, pelo que se tinha que andar em cima de pequenas tábua de madeira. Mas o pior era o calor e a humidade que se fazia sentir. Já era difícil respirar, caminhar então tornava-se bastante complicado. Aqui fizemos o habitual nas grande cidades, ou seja, passear pelas suas ruas, praças e estabelecimentos. Visitámos a praia fluvial de Ponta Negra e os animais da Amazónia no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS, o exercito brasileiro especializado para a defesa e protecção desta floresta).

Feita a visita a Manaus estávamos preparados para seguir viagem até à Venezuela, bom, não tão preparados como devíamos realmente estar! Quando chegámos à estação dos autocarros foi-nos recusado embarcar rumo à Venezuela por não termos a vacina contra a febre amarela válida! Enfim, sorte a nossa que foi em dia do concerto da Orquesta Filarmónica de Manaus na opulenta sala do Teatro Amazonas. Este pequeno atraso que se previa de 10 dias, acabaram por ser apenas 2. Digamos que entrámos bem nos esquemas da Venezuela ainda antes de lá termos chegado.

Belém e o Rio Amazonas

A cidade de Belém foi o nosso ponto de partida para a viagem até à floresta Amazónia. Pouco tínhamos planeado fazer nesta grande cidade que não envolvesse os preparativos para os dias no barco que nos iria levar até Manaus. Assim, na mesma manhã que o nosso autocarro chegou de São Luís, nós arranjamos alojamento, comprámos os bilhetes de barco e orientámos uma rede para dormir (oferta de umas viajantes argentinas). Agora só tínhamos que esperar 2 dias até o barco partir e, sendo Belém a capital do estado do Pará, não faltaram mercados, esplanadas, jardins, museus, prédios coloniais e lojas de “atacado” para nos manterem entretidos. De Belém destacamos a “cachaça” mais forte que já provámos (e que não recomendamos!)

O Rio Amazonas não precisa de apresentação e, de um modo ou de outro, todos ouvimos falar dele e da floresta que atravessa. Para muitos o que atraí são as paisagens únicas e para outros é a biodiversidade que alberga. Para nós, além disto, era também o dia-a-dia das populações que dependem directamente do maior rio do mundo. Posto isto, decidimos conhecer a “etapa final” do rio amazonas, de Belém a Manaus, navegando no ferry local durante 6 dias ininterruptos. É de longe uma experiência única mas, em grande parte do tempo, também repetitiva e, mais para os passageiros económicos, desconfortável. Para nós foi um pouco diferente. Tivemos a sorte de termos reclamado, junto da proprietária do barco, que tínhamos sido enganados na compra do nosso bilhete. Por surpresa nossa fomos compensados com um camarote com casa de banho privada, ar-condicionado e frigorífico. A viagem, que supostamente iria ser feita a dormir ao relento, em rede, junto com mais de quatro centenas de brasileiros e com o mínimo de necessidades básicas possíveis, foi feita com todos os confortos existentes. Os nossos dias no barco eram passados a apreciar as paisagens que o rio amazonas nos proporcionava, a ler livros, beber cerveja fresquinha e descansar no nosso quarto com ar condicionado :)

Durante o percurso de 1650km, desde o oceano atlântico até à capital do estado da Amazona, visitámos as vilas de Almeirim, Monte Alegre, Óbitos, Santarém, Silves e outras com nomes menos portugueses.