Khajuraho

Quem visita Khajuraho é (quase) exclusivamente para fotografar e estudar o grupo de templos da religião Hindu e Jainismo que são ornamentados com figuras nas mais diversas posições do (não tão conhecido) livro Kama Sutra. Nós como não gostamos muito destas coisas só tirámos 1346 fotografias e ficámos cá 3 dias a estudar.

A vila em si tem pouco mais para ver, no entanto tivemos a sorte de conhecer o Rakesh que nos proporcionou uma experiência cultural menos comercial. Com ele fomos visitar a vila antiga (e exclusiva dos aldeões locais), conhecer as suas culturas e costumes. No final da manhã acabámos na casa dele para saborear o almoço que as suas irmã tinham preparado.

A passagem por Khajuraho foi tranquila, sem stress e muito agradável. Quanto às fotografias, não ofendendo susceptibilidades, são para maiores de 18 anos (nalguns casos para menores de 40! :))

A árvore, a foto postal e a Índia no seu melhor! (Bodhgaya, Agra e Varanasi)

Passamos 15 dias entre 3 locais distintos e, no entanto, com práticas similares. Em uma palavra, Bodhgaya é uma árvore, Agra um templo e Varanasi um rio (santo)! Quem visita estes 3 lugares vai quase exclusivamente para ver estes 3 símbolos que, respectivamente, são uma referência ao Budismo, ao amor e ao Hinduísmo. No mesmo sentido, uma grande maioria de quem lá vive, directa ou indirectamente, está dependente destes highliths. Mas isto de juntar amor e religião com estas quantidades claro que não podia fazer bem, pelo menos para nós!

Bodhgaya é uma pequena vila que tudo deve ao grande Shiddhartha. Não fosse o Sr. Prince Shiddhartha Gautama ter-se sentado aqui debaixo de uma figueira, há uns 2600 anos atrás, e esta vila não era nada. Hoje, milhares de peregrinos Budistas invadem a vila para, no templo Mahabondhi, poderem contemplar a árvore e fazerem as coisas-que-eles-lá-sabem. Não sabemos que coisas são essas, dizem que é meditação e encontrar o caminho para qualquer lado. Na parte que nos toca, que é muito pouca, achamos que com o barulho, poluição, lixo, confusão de pessoas e sem lugares para circular que não deve ser nada fácil chegar ao enlightenment. No tempo do Buddha o meio envolvente devia ser mais propicio, nos tempos que correm nós só aguentámos aqui 2 dias na vila.

Como nota: A árvore onde o Buddha se sentou ininterruptamente durante umas semanas, nos dias em que chegou ao enlightenment e formulou a sua filosofia de vida, morreu durante o século II A.C.. A figueira venerada nos dias de hoje foi plantada com o corte de uma outra que floresce no Sri Lanka e que, por sua vez, foi lá plantada pelas raízes da árvore originária. Digamos que é uma descendente de 3ª geração. :)

Enquanto Bodhgaya apenas precisou de uma árvore e de um “homem”, em Agra tiveram mais trabalho. Há muita história nesta cidade de mais de 1 milhão de habitantes, há um fort, templos, mercados e industria. Mas actualmente Agra permanece no mapa à conta dos 3 milhões de turistas que anualmente visitam o monumento Taj Mahal. Nós, que estávamos a “fazer tempo” para festejar o Holi Festival na cidade de Varanasi, visitámos Agra de uma ponta à outra. E, na verdade, além deste monumento património da humanidade há poucos motivos para prolongar a visita. A cidade é caótica e decorada com lixo, as pessoas são porcas, as ruas repletas de vacas tornam-se intransitáveis e a poluição é tanta que há 10 anos descolorou o Taj Mahal! Mas, diga-se por justiça, o Taj faz valer a visita. É mesmo como nos postais, e nós, para não variar, aqui fizemos o nosso!

Tínhamos grandes expectativas para Varanasi. Afinal, até alterámos o nosso itinerário só para que a visita a esta cidade coincidisse com os dias do festival Holi, um dos maiores festivais da Índia e dos mais importantes para os Hindus. No entanto, digamos que a experiência vivida não foi a esperada! Há culpas para as expectativas, como é normal, mas duvidamos que a nossa opinião sobre a City of Life  fosse outra caso não as estivéssemos. Varanasi, “the oldest living city on earth”, é de difícil explicação. Aliás, Varanasi é difícil em tudo, desde arranjar 1 quarto entre uma oferta de milhares, de circular nas ruelas sem se perder, de andar sem pisar merda de vaca ou de conversar na rua sem ser interrompido 30 vezes por minuto por alguém que, no final, pede dinheiro. É uma cidade onde as ruas transbordam de lixo, onde a pobreza e a sujeira vivem numa triste harmonia e, acima de tudo, onde reina o caos. Mas, explicavelmente (coisa que não conseguimos fazer), atrai milhões de pessoas anualmente (muitas já mortas) com o objectivo de lavarem os seus pecados de vida no rio Ganges. É um espectáculo (com o devido respeito) digno de ser visto. Os que vêem já mortos são carregados, em cima de uma espécie de maca de bambo, enrolados em tecidos, numa procissão familiar pelas estreitas ruelas da cidade antiga até uma das Ghats (escadas que acabam dentro do rio Ganges). Chegados ao rio o corpo-cadáver é banhado, despido e tapado com um outro tecido. Ali, no chão, aguardam até haver uma das dezenas de fogueiras disponíveis para serem cremados. Este filme está em cena 24 horas por dia, 365 dias por ano, em plena “luz do dia ou da noite” para qualquer pessoa assistir, cheirar e ainda levar com as cinzas dos corpos queimados (a cereja em cima do bolo é escusada de ser explicada, mas pelo sim pelo não, … claro que o tecido à volta do corpo é a primeira coisa a arder, e a desaparecer, o resto ainda demora!). Como em qualquer espectáculo são proibidas fotografias ou filmagens. Quanto àqueles que em vida peregrinam até esta cidade, e muitos outros que cá vivem, utilizam uma das cerca de 80 Ghats para banhar ou meditar. Nós ficámos pelas escadas, não tivemos a coragem, nem obviamente a crença, de tocar naquele rio.

Varanasi, por ser considerada uma das sete cidades sagradas do Hinduísmo, leva as comemorações religiosas muito a sério. Por sabermos isso, estávamos ansiosos por aqui participar num dos maiores festivais deste país. O Holi Festival, também conhecido como o festival das cores, dura aproximadamente 24 horas (em Varanasi!) e caracteriza-se, essencialmente, por “atirar” cores às pessoas de modo a celebrar o inicio da primavera. Mas, afinal, não é só isso! O programa das festas era o seguinte: após o por-do-sol os homens fazem fogueiras entre todas as ruelas da cidade antiga e passam toda a noite em seu redor a beber álcool (proibido na religião Hindu mas, pelos vistos, nem sempre!). Qualquer transeunte que tenha a sorte de por lá passar terá que prestar uma doação financeira para os residentes da rua em questão (“não pagar”…não nos pareceu ser uma alternativa!). Quer pague, quer não pague, será recebido com cores, muitas cores que serão espalhadas pelo seu corpo. Este show dura até às 14 horas do dia seguinte! Nós, entusiasmados, já tínhamos preparados as nossas piores roupas para festejar o Holi. No entanto, no dia em questão, todas as pessoas (com excepção da policia local) aconselharam-nos a não sair do hotel durante aquele período de tempo por ser “dangerous”! Supostamente para homens não havia problema nenhum mas para mulheres, independentemente se acompanhadas ou estrangeiras, seria bastante grave. Decidimos, a muito custo, acreditar no povo e não confiar na opinião da policia! Aparentemente foi uma boa decisão pois a forma como os homens, embriagados e pouco habituados a bebedeiras, atiram cores às mulheres é de modo intrusivo. Cercam as pessoas (digamos…10 homens) e com as suas mãos cheias de pó colorido apalpam todo o corpo das mulheres. A policia, os bons conselheiros, nada podem fazer porque até ao final da celebração do Holi não podem impedir nem prender ninguém que esteja a “festejar”! Enfim… Incredible Índia! Do mal ao menos, como ficámos hospedados num hostel cheio de jovem backpakers fizemos a nossa própria festa no terraço.

 

Estas cidades da Índia cansam, por vezes até à exaustão! É difícil não dizer mal, dado o que está à nossa frente ser inegavelmente negativo. No entanto tem uma mística inexplicável (pelo menos por nós) que nos impede de dizer que não gostámos delas. São culturalmente ricas, desafiantes e provocadoras. Custa convencer a quem nunca lá esteve que adorámos a experiência e que, à final, é um “must see/must do” neste país, ou até mesmo de todo o subcontinente Indiano.

Calcutá

Só nos lembramos daquela antiga ideia de reservar alojamento, que foi posta em prática em Yangon, (link para o primeiro post de yangon) quando é tarde demais! O tarde-demais normalmente é quando já vimos 3 alojamentos, nenhum nos agradou ou estão cheios, já estamos cansados de carregar as mochilas e começa a ficar de noite!

Na Índia, por regra, lembramos-nos mais cedo, pois há sempre novos esquemas a serem postos em prática!

Tomemos como exemplo Calcutá:

Esquema 1) Aterrámos, vindos de Bangkok, por volta das nove da noite. Decidimos ainda dentro do aeroporto fazer um pré-pagamento do táxi para o destino pretendido no centro de Calcutá. Com isto garantíamos que já não nos tínhamos que chatear a negociar preços, destinos ou que taxista escolher (dentro de um leque de mais de 15 em nosso redor!). Tudo perfeito, com o ticket do pré-pagamento em nossa posse ninguém nos abordou até chegarmos ao primeiro táxi da fila, onde entregámos o ticket e dissemos o destino. Já dentro do táxi o condutor pede-nos para confirmar a rua, liga o motor e arranca. No entanto, após literalmente 5 metros percorridos, pára o carro, vira-se e pede-nos uma gorjeta, dando a entender que o dinheiro do “pré-pagamento” não ia para ele. Inocentemente ainda lhe respondemos que ele só podia estar maluco, para ele arrancar e talvez no final da viagem logo se viria se merecia ou não! Mas ele nem arrancou nem desligou o motor e continuava a insistir em qualquer gorjeta, qualquer uma que fosse. Isto foi coisa para ter demorado 2 minutos, e acabou com o verdadeiro taxista a aproximar-se do carro e o nosso “condutor” a sair :) A viagem até ao local pretendido foi uma tranquilidade.

Esquema 2) Chegamos ao nosso destino, numa rua num bairro com alojamentos em conta, e começamos a nossa busca por um quarto para dormir. Ainda nem colocámos as mochilas às costas e já temos 3 senhores para nos dar indicações e nos levar ao hotel que pretendermos. Dois deles desistem após um veemente “No, Thanks!”. O outro, o resistente (ou persistente, há sempre um!), continuou a sussurrar ao nosso ouvido durante toda a nossa busca (que durou 45 minutos, passou por duas recepções de hotéis diferentes, conversas particulares e em português entre nós, 3 negociações de preço/noite, dois becos e uma rua principal!). No final ainda nos pediu uma gorjeta! Nós rimos-nos!

Agora não digam que nós não temos calma…e sentido de humor!

Ficámos 2 dias em Calcutá. Deu para apreciar as longas e largas avenidas da cidade, viver o dia-a-dia nos transportes locais (metro e autocarros públicos), saborear a deliciosa gastronomia regional, visitar os prédios históricos e descansar nos jardins desta cidade. Por outro lado também deu para começar a perceber melhor o tipo e dimensão de pobreza na Índia, da sociedade e suas “normas”.

Para o segundo dia que íamos visitar a cidade de Calcutá estava convocada uma greve em protesto contra o elevado custo de vida. Curiosamente, apesar habitarem mais de 14.5 milhões de pessoas nesta cidade de 185 km2, e naturalmente ela ser caótica, no dia da greve a cidade ficou deserta. Eram avenidas, ruas ou ruelas, rotundas ou cruzamentos sem qualquer transito ou pessoa a circular. Calcutá naquele dia, até às 18 horas, foi uma cidade fantasma, e maravilhosa!