Parque Nacional Médanos de Coro, Coro.

A passagem na cidade de Coro tinha que ser breve pois pelas nossas previsões todos os Bolivares Venezuelanos que conseguimos comprar em Chichiriviche (ao melhor câmbio de 9.0 por 1 us dolar) só nos permitiam aguentar por mais 2 dias. Aproveitamos para visitar a cidade colonial de Coro, património mundial pela Unesco e o parque nacional Medanos de Coro, mais uma das maravilhas da Venezuela. O último dia foi passado na vila de Adícora, na praia ventosa na meca do kitesurf.

A experiência na Venezuela estava a acabar. Devido ao nosso desconhecimento sobre o custo de vida na Venezuela e ao problema associado ao câmbio de dólares não tivemos a oportunidade de visitar nenhuma das grandes cidades, nomeadamente Mérida ou Caracas. Com tudo, e apesar de termos sentido um pouco da insegurança do povo venezuelano, esta nossa experiência foi tranquila, muito agradável e super gratificante. A Venezuela poderá merecer um retorno, mas não sem antes resolver os seus problemas.

 

P.S.: E sim, a gasolina é mais barata, aliás, muito mais barata que a água potável. 1 depósito de 40 litros custa 18 Bolivares Venezuelanos, ou seja, 1 litro de gasolina está ao insuportável preço de… 0,05$usd.

Parque Nacional Morrocoy, Chichiriviche

Como estávamos a ficar sem dólares tínhamos que antecipar a nossa ida para a Colômbia e, por isso, das quatro restantes localidades que queríamos visitar seleccionamos duas.

Para visitar o parque nacional Morrocoy, ou “nos quedamos” na vila de Tucanas ou em Chichiriviche. De Tucanas não gostámos, pois era apenas uma extensa recta de comércio e caótica até chegar á praia, de Chichiriviche, apesar de a vila não ser muito melhor, sempre nos pareceu mais tranquila e, acima de tudo, tem uma dezena de imigrantes portugueses (essencial para o apoio na vitória de Portugal contra a Holanda no euro2012).

Durante os 3 dias que nos hospedamos na casa do Sr. Aurélio, a nossa rotina foi regrada:

– tomar o pequeno almoço na padaria do Sr. Manuel; ir para uma das ilhas do Parque Nacional Morrocoy; na praia esperar que o Sr. Ramon passasse com a lagosta do dia; e à noite dar o passeio no mercadillo de artesãos com um cocktail de rum numa mão e uma hamburguesa na outra.

A rotina só foi abalada no último dia quando no início da tarde trocamos a praia de areia branca pelo jogo de Portugal. A Holanda perdeu e no restaurante todos festejamos a passagem da Selecção aos quartos de finais do euro2012.

Chichiriviche cumpriu com os objectivos superando as expectativas, faltava agora uma última paragem antes de entrarmos na Colômbia.

Parque Nacional Henry Pittier, Puerto Colombia

O problema de cambiar dinheiro na Venezuela fez-nos reprogramar os nossos dias por este país. Com receio de que o dinheiro que transportávamos não chegasse, e também por ninguém nos ter dito nada de bom da capital, decidimos não parar em Caracas e ir directos para outra zona das Caraíbas. (No próprio dia ficámos um pouco arrependidos por esta ser a única capital não visitada, mas mais tarde esta revelou-se uma boa decisão!)

No entanto, como calculámos mal as distâncias (ou por não termos antecipado alguns dos problemas dos transportes na Venezuela), não conseguimos no mesmo dia chegar até à praia e tivemos que dormir em Maracay. Desta cidade pouco temos a referir a não ser o facto de termos ficado alojados numa residencial de um emigrante português (bom…madeirense :) ). No dia seguinte já estávamos a caminho de Puerto Colombia para visitar mais um parque nacional da Venezuela.

Após termos atravessado as montanhas de floresta tropical pertencentes ao Parque Nacional Henry Pittier chegámos à vila de Puerto Colombia, ponto de partida para explorar as praias e ilhas em redor.

Puerto Colombia, ou ChoronÍ para os locais, é uma pequena vila de prédios coloniais, com aparência agradável e uma praia paradisíaca. No entanto, tanto os chuviscos ocasionais, como um ambiente assim meio-a-virar-para-o-inseguro fez-nos em poucos dias seguir viagem. Também, para dizer a verdade, a nossa decisão foi facilitada por ninguém da vila nos trocar dinheiro (esta coisa do câmbio estava-se a tornar um pouco incómoda, não!).

Parque Nacional Mochima, Santa Fé

Depois de uma viagem “daquelas” qualquer sitio que nos desse uma cama e um chuveiro era óptimo. Não estávamos convictos de tal sorte, afinal nas últimas 23 horas dois autocarros avariaram, um outro foi cancelado e a chuva prometia nunca parar. Mas uma coisa era certa, das caraíbas já ninguém nos tirava. Assim que colocámos os pés da areia soubemos que o esforço tinha valido a pena. Ficámos alojados em frente à praia, alias, em cima da praia e daí só saímos para visitar outras praias espalhadas pelas ilhas que compõem o Parque Nacional Mochima. Esta era a primeira “localidade” que visitávamos na Venezuela e, por tal, pretendíamos desde logo desmitificar (ou clarificar) alguns dos boatos (ou avisos) que vínhamos ouvindo sobre este país. O primeiro, relativamente ao valor real da moeda, tínhamos-nos apercebido ainda no Brasil quando estávamos prestes a atravessar a fronteira. Em Santa Fé confirmámos que não só o valor oficial dos Bolivares Venezuelanos é metade do praticado no mercado negro (há quem lhe chame “mercado paralelo”) como também não é fácil arranjar alguém que esteja neste “negócio” de cambiar dinheiro. Na prática, era insustentável para nós (e qualquer outro turista, mesmo que mais endinheirado) permanecer na Venezuela caso tivéssemos que trocar os nossos Dólares Americanos num banco ou numa casa de cambio oficial. É que estes compravam os nossos $USD por 4.2 Bolivares, enquanto no mercado paralelo conseguíamos vender cada nota americana por 9.0 Bolivares. A Venezuela já por si não é dos países mais baratos, se levantarmos dinheiro do multibanco torna-se num dos mais caros “del mundo”! Neste aviso acreditámos e como tal decidimos ainda no Brasil abastecermos-nos de “Benjamins Franklings”. No entanto não tivemos o mesmo cuidado e preparação com que, por exemplo, tivemos para o Birmânia, nomeadamente, na qualidade das notas e no valor delas. Mas, first things firts, primeiro tínhamos que encontrar alguém que nos comprasse as verdinhas americanas e aparentemente este já não estava a ser um negócio lucrativo! Ao final de 2 dias e já sem dinheiro para água conseguimos trocar 100 usd. Fizemos a festa, e não foi com água. Pagámos o hotel, a “tour” a uma das ilhas dentro do Parque Nacional (onde acompanhámos um cardume de golfinhos) e guardámos o suficiente para apanhar o autocarro no dia seguinte.

Nessa noite festejámos e fomos sair à noite! Este era um outro boato, o perigo da Venezuela. Não arriscámos muito, até que só havia um bar nesta localidade, mas deu para conviver (só com homens) e entrar no esquema de pagar as rodadas, semelhante a Portugal. Talvez por sermos os únicos “outsideres”, ou então pelos belos olhos da Ana, mas aqui conversámos com a malta e deu para termos uma perspectiva do povo que venera o Chavez (os pobres e bandidos) e os que esperam que ele perca as eleições deste ano (também pobres mas fartos da insegurança e da corrupção). Ambos os lados falavam abertamente e respondiam a qualquer questão colocada. Não podemos dizer com isto que a Venezuela é segura ou tranquila, mas que esta noite correu bem é inegável!

A Venezuela e os seus parques naturais!

A Venezuela tem alguns obstáculos sendo o primeiro conseguir lá chegar. De Manuas até ao nosso destino, as caraíbas, separavam-nos 1959 km pela floresta Amazónia e pelo Parque Nacional Canaíma. Mas estas não eram as nossas preocupações. O facto de só em Manuas nos termos informado que para entrar na Venezuela precisaríamos da vacina da febre amarela válida, e que esta demora 10 dias a fazer efeito após de tomada, começamos a pensar em alterar os nossos planos. Mas as alternativas eram piores (e mais caras) do que arriscar entrar de qualquer forma. Afinal, o pior que podia acontecer era termos que voltar para trás cerca de 918 km pela floresta. (Quanto à febre amarela, tomámos a vacina gratuitamente mal tivemos a noticia, só não esperámos os 10 dias!)

Como nenhuma empresa de autocarros que fazia o trajecto Manaus-Venezuela nos quis vender bilhete (diziam que assim não conseguiríamos entrar no país do Chavez) tivemos que seguir viagem por nós próprios. Fomos de autocarro até à cidade de Boavista, onde trocamos para uma camioneta que nos levou até à fronteira do Brasil. Até à Venezuela faltavam 2 km! Estávamos quase e tudo estava a correr na perfeição mas…há sempre um “mas”… todos os autocarros que se encontravam no lado do Brasil (e que iam directamente para a costa na Venezuela) ou estavam avariados, ou tinham acabado de ser apedrejados no lado da Venezuela. Ou seja, não havia transporte para o “lado-de-lá”, era hora de almoço (e a fronteira estava fechada) e Portugal ia quase começar a jogar com a Alemanha. Até meio da primeira parte do jogo não nos preocupamos muito com o que fazer, mas tudo mudou quando os brasileiros optaram por mudar de canal para ver o jogo amigável entre o Brasil e a Argentina. Ficámos tristes e agora estávamos a correr contra o tempo. Despedimos-nos amargamente do Brasil e caminhamos em direcção ao país que diziam ser muito perigoso e que certamente iríamos ter problemas, principalmente com a policia corrupta. Foi como sair de uma estrada de pó e entrar numa impecavelmente alcatroada, literalmente! A passagem pelo serviço de imigração foi do mais célere possível (também só éramos nós os dois) e apenas foi necessário apresentar o passaporte e fazer o “check in” no livro de registo de entrada (semelhante aos dos hotéis – nesta sala não havia sequer computadores). Para festejar a boa entrada na Venezuela tirámos a nossa foto habitual, desta vez com a ajuda da policia militar (que para nós foi simpática e sempre prestável). Da fronteira até à primeira cidade eram 16 km, estes já eram mais complicados de fazer a pé e sem táxis nem autocarros por perto decidimos pedir boleia. Não demorou mais do que 5 minutos até uma pick up de caixa aberta parar e nos perguntar para onde queríamos ir. Subimos para a caixa aberta e passado 15 minutos já estávamos a apanhar um táxi (conduzido por um português) do centro da cidade de Santa Elena de Uairén até à estação dos autocarros.

Contudo, na estação do autocarros, ainda tivemos tempo de sofrer os últimos 10 minutos do primeiro jogo de Portugal no Euro2012. Gostámos do que vimos e ficou a promessa que os próximos jogos teriam que ser vistos com mais calma e concentração. Horas mais tarde, já pelas 8 da noite, apanhámos o autocarro que nos iria levar até à cidade Bolivar, no centro da Venezuela. Daí foi só apanhar um táxi para fazer os restante 260 km até à cidade balnear de Puerto de la Cruz.

O primeiro desafio não foi dos mais fáceis, mas ao final de 23 horas conseguimos chegar à vila de Santa Fé, no Parque Nacional Mochima.